sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

“Guerra do Trânsito” – O quanto contribuímos para sua existência

                Muitos são os fatores que causam a verdadeira tragédia que é o trânsito brasileiro, uma guerra que mata e mutila dezenas de milhares de brasileiros todos os anos. Todos sempre se perguntam: Por que os números não diminuem já que existem campanhas e se fala no assunto todo o momento? Até a toda poderosa RBS achou que, com seu “canhão” de comunicação, conseguiria reduzir os números da mortalidade, e acabaram se frustrando, pois os números até aumentaram durante a campanha “correr é o fim”. Por que não diminuem os acidentes?
                A principal dificuldade é que as causas dos acidentes são “culturais” e não se muda toda uma cultura de uma hora para outra, é preciso um comprometimento de toda a sociedade. E aí começa o problema:
                Como conseguir uma mobilizar uma sociedade que não se sente responsável pelo problema? Como conseguir uma mudança se todos acham que não fazem parte deste problema?
As manchetes falam por si
                Enquanto em países “desenvolvidos”, com índices baixos de acidentalidade, o proprietário de um bar, restaurante ou promotor de uma festa é considerado co-responsável por um acidente causado por alguém que consumiu bebida, em seu estabelecimento ou residência, e dirigiu depois. Aqui no Brasil, realizamos festas regadas a muita bebida e a servimos livremente para crianças, adolescentes e nossos convidados motorizados.
                Alguém já esteve em uma festa, mesmo de crianças, onde deixaram de servir bebidas alcoólicas para um convidado, por ele estar de carro e depois iria dirigir? A maioria vai responder que não. Inclusive muitos dos leitores já forneceram, livremente, bebidas aos seus convidados, em festas, encontros e churrascos caseiros, mesmo sabendo que logo depois eles sairiam dali dirigindo seus veículos, com seus filhos, amigos e familiares na carona.
Será que não está na hora de revermos nossos conceitos????
                Ninguém se sente responsável por aquilo que o outro faz, justificamos isso, para aliviar nossas consciências, dizendo que cada um é responsável pela sua própria vida e por seus atos. O intrigante é que não deixamos de usar nossa influência sobre amigos e parentes, para conseguir deles algum favor ou benefício, mas não utilizamos desta mesma influência para tentar evitar que eles cometam um erro que poderá lhe custar à vida ou a de outras pessoas.
                                É final de ano e inicio das férias, muitas comemorações, encontros, calor, e é natural que as pessoas relaxem um pouco nos cuidados, e por este motivo é uma época em que o número de acidentes aumenta muito.
                 Proponho que junto com as reflexões, comemorações e projetos para o futuro, inclua uma mudança de hábito para 2011, aonde todos venhamos a assumir nossa responsabilidade na tarefa de reduzir essa “guerra do trânsito”. Você pode se engajar em projetos como o Vida Urgente, que lhe proporcionará também um crescimento pessoal importante, mas pode simplesmente operar uma mudança em você mesmo e naqueles que estão a sua volta.
                Devemos pensar em nossa responsabilidade por tudo que acontece em volta de nós.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sistema Público de Saúde – Será que têm jeito?

          Esta semana acompanhei minha mãe a uma consulta médica. Ela sofre de um problema na coluna, não tem plano de saúde e se utiliza do SUS quando precisa, na primeira consulta lhe foi solicitado um exame, uma ressonância magnética, fizemos uma vaquinha para pagar o exame particular, pois pelo SUS leva em média 2 anos. Quando chegou a hora de levar para o médico ver, fui com ela para saber da real situação e vivenciei, por algumas horas, o problema das pessoas que precisam usar o sistema público de saúde.
          A consulta era no Hospital Beneficência Portuguesa, que já foi um dos mais importantes hospitais de Porto Alegre, digo foi, pois nos últimos anos vêm sofrendo várias dificuldades e resiste bravamente. Minha mãe chegou por volta dás 12h30min e eu fui encontrá-la por volta dás 15h, ou seja, quando cheguei lá ela já estava esperando pacientemente por 2h30min. Ao lado dela eu fiquei mais 2h30min e ás 17h10min ela foi chamada.
          Durante a espera mais ou menos 30 pessoas, que aguardavam, contavam seus dramas pessoais, seus problemas de saúde e aventuras em busca de consultas e exames. É comovente a solidariedade entre elas, indicando, umas as outras, os macetes de como conseguir uma consulta, indicando um médico, local para exames e escutando solidários os relatos das outras. Muitas delas têm tantas horas de espera, que se pudessem trocar por milhas aéreas, poderiam passar umas férias bem legais em algum lugar bem longe de Porto Alegre.
          Mas na realidade, elas nada ganharam, ou melhor, quase nada, todo esse esforço para conseguir 5 minutos de atenção, tempo máximo que cada um ficava com a atenção de um jovem médico residente.

          A consulta da minha mãe durou menos do que isso, ele foi muito simpático, olhou o exame por 20 segundos, leu o laudo por mais 20 segundos, falou que ela tinha problemas naturais da idade e que não era caso de cirurgia. Disse assim: “Olha dona Flávia, a senhora tem uns problemas aqui, uns discos gastos, mais uns desvios acolá (falou na linguagem técnica, eu compreendi, mas não sei reproduzir os termos) e disse mais ou menos assim: “Existem dois casos, os que são para cirurgia e os que não. O seu caso não é para cirurgia! Aconselho à senhora fazer caminhadas”. Respondemos que ela não podia, pois possui um problema nas pernas, inclusive foi aposentada por causa deles (Nesta hora sonhei com um sistema informatizado onde ele pudesse ter um terminal de computador que mostrasse todo o histórico de saúde de minha mãe e de todas as pessoas que lá estavam.). Ele então sugeriu hidroginástica e receitou um remédio para dor, minha mãe falou umas palavrinhas e nos despedimos, após 5 horas de espera. Lembrei do slogan do Jucelino kubcheck 50 anos em 5 (5 horas de espera por 5 minutos de consulta).
          Para resumir: minha mãe teve uma vida dura, trabalhou desde criança, sim isso mesmo, ela era criança quando começou a trabalhar lá no Alegrete, e assim seguiu uma vida toda, trabalho pesado, além de criar 4 filhos, sendo um deles, eu, um asmático, que precisava de cuidados especiais, e como não existia a bombinha quando eu era criança, e nós não tínhamos carro, quando eu entrava em crise, ela subia uma lomba comigo no colo, para pegar um ônibus e me levar para o hospital. Vida dura mesmo. E como ela não conseguiu acumular alguma riqueza durante sua vida, e nós, seus filhos, também não conseguimos, pelo menos até agora, ela não vai ter moleza, e terá que ralar muito para poder ter um pouquinho de qualidade de Vida e conseguir os 5 minutos de atenção, sempre que precisar.
Essa é minha mãe. Uma mulher admirável e de quem tenho muito orgulho. Espero ser testemunha ocular de uma melhora no Sistema Público de Saúde para que ela, e tantas outras pessoas, não tenham que passar por sacrifícios todas as vezes que precisam de atendimento
          Mas sabe que entendi algumas coisas da natureza da minha mãe que não entendia até o momento. Desde muito cedo ela sempre foi muito disponível em percorrer os médicos para marcar consultas, se oferecer para acompanhar amigos e familiares em suas internações. Como ela é de Alegrete, e têm a maior parte de sua família lá, ela sempre os acompanhou e auxiliou a todos em sua busca por atendimento médico. Todos os nossos amigos e familiares sabem que podem contar com ela para fazer companhia, seja quando estão internados, ou apenas vão a uma consulta. Acho que somando os atendimentos médicos para nós, e eu utilizei muito deles, os de amigos e familiares e mais os dela, a minha mãe possui um gigantesco número de horas de “chá de banco”.
          Vendo aquelas pessoas, percebi o efeito impressionante da solidariedade humana, e quanto ela nos proporciona que possamos nos sentir menos infelizes ajudando os outros. O Sistema subjuga e humilha as pessoas que dele precisam, todos ali já estavam fragilizados por seus problemas de saúde, e já se sentiam um pouco inferiores por não terem dinheiro para um plano de saúde, que lhe fizessem serem tratados como reis em um hospital limpinho e moderno, com equipamentos de última geração. Sentiam-se humilhados por ter de suportar suas dores e aguardar por muitas horas para terem uns poucos minutos de atenção, porém mesmo assim, ajudavam uns aos outros, ajudam os outros a levantar quando eram chamados (Sim, por que alguns estavam tão debilitados e com problemas, que precisavam de ajuda para levantar da cadeira e nem todos tinham um familiar acompanhando, estavam sós, como na maior parte do tempo minha mãe está, pois todos têm que trabalhar e poucas vezes temos disponibilidade para acompanhá-la), ofereciam água, conversavam e ao sair desejavam boa sorte aos outros, como velhos amigos. Enquanto o sistema desrespeita, abandona e humilha, as pessoas se dão as mãos, se ajudam, protegem, consolam, e assim o tempo passa rápido, tão rápido quanto o tempo da consulta.
          Sugiro que os jovens, adultos, homens e mulheres, ocupados com seus afazeres, acompanhem um familiar a uma consulta, pelo menos uma vez na Vida e poderão ver de perto aquilo que muitos só assistem pelas câmeras da TV.
O amigo da foto aí, que ocultei para preservar sua identidade, é um dos personagens cuja história me chamou a atenção, dentre as tantas que escutei enquanto esperava. Ele é um pai de família, trabalhador, sofreu um acidente de moto, que lhe calsou danos no cérebro, que não lhe permitem uma vida normal (deixarei de dar detalhes sobre seu estado de saúde). Além de tudo o que sua família está passando, e são muitas a dificuldades, um espertalhão se ofereceu para auxiliar na retirada do seguro DPVAT, porém queria cobrar 40% do valor a que ele tinha direito, o que não foi aceito por sua familia. Resumo da história: Passados mais de ano desde o acidente, até agora não conseguiram retirar o seguro por causa deste pilantra, que exige o pagamento se utilizando de uma procuração assinada quando ele se ofereceu para "ajudar". É impressionante como têm pessoas que se aproveitam das fragilidades alheias para obter vantagens.
          Sempre admirei minha mãe, até por lembrar as noites em que acordava com falta de ar (e só quem têm sabe o desespero que é uma crise de falta de ar) e ela estava lá, dormindo sentada ao lado de minha cama, para me socorrer caso precisasse, ou ainda por, mesmo com poucos recursos, nunca ter deixado de levar os 3 filhos pequenos de ônibus (Não pense que há quase 40 anos atrás era como hoje. Era complicado pegar ônibus e demorava uma eternidade) para fazer piquenique na Redenção. Ela, com três crianças, mais sacolas, dava um trabalhão danado. Porém vendo-a enfrentar tudo isso para ter uns minutinhos de atendimento, e imaginando quantas vezes ela já passou por isso, me fez admira-la mais ainda.
          Espero que a nossa Presidente Dilma, possa melhorar isso, pois resolver eu acho difícil, porém não impossível. Mãos a obra Presidente!