terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sempre querendo nos manipular


O tempo vai passando, e cada dia mais a política vai se sofisticando, ficando mais parecida com o comercial de um produto qualquer. Se no passado, políticos com grande capacidade de inserção social, carisma e eloquência verbal eram fundamentais para o sucesso eleitoral, e os partidos investiam pesado na formação de quadros e na descoberta de novos talentos, hoje tudo mudou, e o sucesso eleitoral está muito ligado ao poder econômico e a capacidade do partido político contratar um publicitário, ou uma agência inteira de publicidade para fazer sua campanha.

As campanhas estão milionárias? Sim estão! E grande parte do valor gasto vai para sustentar a equipe de publicitários que é contratada, a peso de ouro, para vender um candidato como se vende um produto qualquer. Especializados em comportamento humano e experientes na arte de nos vender aquilo que não queremos comprar, os publicitários são cada vez mais ouvidos pelos políticos, e interferem, cada vez mais, naquilo que é dito e é feito pelos administradores.
Em resumo, os políticos não fazem mais o que é necessário fazer, mas aquilo que contribui para melhorar a sua imagem, pois o objetivo é simplesmente conquistar o poder e se manter nele.  Poucos são capazes de fazer algo que desagrade ao “publicitário mentor”.

Não é por menos que em grandes escândalos de corrupção como o Mensalão PTista e o valerioduto Tucano, o publicitário Marcos Valério está na linha de frente, comandando um grande esquema de desvios de dinheiro público. Estes casos não são isolados, existem muitos pelo Brasil. Aqui mesmo no Sul em 2010 foi desmantelado um esquema que teria desviado cerca de R$ 10 milhões do Banrisul com a participação das agências SLM e DCS. 
Por falar nisso, que fim deu esse caso? Abafaram?


Fui procurar alguns números para ver a força dos publicitários nas campanhas.
Campanha da Dilma 2010 – Arrecadação total R$ 135.530.844,32 Despesas R$ 153.093.181,16. Deste valor R$ 42 milhões foram para João Santana e sua empresa Pólis Propaganda e Marketing, ou seja, 31% do valor arrecadado na campanha. Recomendo a leitura da reportagem de época publicada em 04/10/2013 e veja como João Santana é uma das pessoas mais poderosas do Brasil, sim, pois se a maior autoridade do País, que é a Presidente da República, o escuta antes de tomar decisões importantes ele é alguém muito poderoso. http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2013/10/bjoao-santanab-o-homem-que-elegeu-seis-presidentes.html

Olhando a Prestação de contas da Campanha da Presidenta Dilma encontrei ainda outros valores interessantes:

R$ 2.615.100,00 para o IBOPE INTELIGENCIA PESQUISA, R$ 1.320.000,00 a CONSULTORIA LTDA VOX MERCADO PESQUISAS E PROJETOS LTDA e outros R$ 406.704,00 para OMA-ASSE. EM PESQ. DE OP. MERC. E AVAL. DE POLIT. PUBL. LTDA, ou seja, R$ 4.341.804,00 foram para institutos de pesquisas, 3,2% do total arrecadado na campanha.

Também encontrei R$ 2.364.478,00 para INFOLIBERO CONSULTORIA ESTRATÉGICA P/INTERNET LTDA de propriedade de Marcelo Branco responsável pela estratégia de Dilma nas Redes Sociais e mais R$ 4.040.000 a uma empresa chamada REALITY VOICE COMERCIAL E SERVIÇOS LTDA que me parece ser uma empresa de telemarketing, digo parece, pois não consegui informações precisas desta empresa na internet pois ela mudou de nome para TELLMED SERVICOS E SISTEMAS DE SAUDE LTDA e tem entre suas funções pesquisas de opinião e portanto pode ser também um instituto de pesquisa por telefone. Mas o importante é que mais R$ 6.381.478,00 ou 4,16% da arrecadação foram gastos com empresas de marketing e pesquisa.

Como podemos ver do total arrecadado para a campanha da Presidenta Dilma, 38% foram para a estratégia de comunicação. É preciso registrar que estes números são ainda maiores, pois fiz uma pesquisa muito superficial, selecionando apenas as despesas com 6 empresas que juntas totalizam R$ 52.339.578,00, uma verdadeira fortuna. A candidata Marina Silva, por exemplo, arrecadou um total de 24.108.859,74 em sua campanha a Presidência da República em 2010, menos da metade do que essas 6 empresas receberam).

Tudo isso para poder entender o que pensa o povo, o que ele está dizendo e para gerar uma estratégia publicitária que induza o povo a consumir o produto deles, que no caso é o candidato.

Não é a toa que nomes muito conhecidos da Publicidade Brasileira, como Nizan Guanaes, Duda Mendonça e João Santana se tornaram “gurus” de políticos.

Para um projeto vitorioso, hoje é preciso ter os elementos mostrados nas despesas de Dilma. Um bom marqueteiro, o constante acompanhamento através de pesquisas de opinião, para saber o que está colando ou não, e com a importância das redes sociais, uma empresa especializada em mídias digitais, para reproduzir sua política de marketing na internet. Sem esse investimento fica muito difícil alguém conseguir sucesso em um pleito eleitoral majoritário.

Funciona como uma marca, você paga mais caro por produtos que investem vultuosas somas de dinheiro em publicidade o que forma um ciclo vicioso que é mais ou menos assim: A empresa gasta X para produzir o produto e investe um valor, ainda maior, para divulgá-lo e transforma-lo em um produto sedutor do ponto de vista do marketing comercial, tudo isso para convencer o consumidor a adquirir aquele produto. O consumidor adquire o produto, por um valor muito maior do que o valor que seria normal, pois tem de pagar também toda a despesa que foi investida em publicidade para convencê-lo a comprar aquele produto.

Assim é com a política. Acabamos nos afastando dela, nos despolitizamos e acabamos “comprando gato por lebre” votando em candidatos que investiram gigantescas somas de dinheiro para contratar estruturas e manipularem tua opinião e lhe convencendo a comprar o “produto deles”.


A pergunta que faço: Quem você acha que paga essa conta?

PS: Recomendo também a leitura da reprodução do Artigo de Cleber Benvegnú que fiz neste blog http://www.testemunhaocular-blog.blogspot.com.br/2013/08/partidos-politicos-ou-sabonetes.html

domingo, 17 de novembro de 2013

Viva os Trabalhadores do Brasil

Hoje se encerra o feriado de Proclamação da República. Em épocas de redes sociais, acompanho a programação de muitos de meus amigos durante o feriadão, viajando, na praia, fazendo churrasco, curtindo muito o feriado, e todos sem exceção, exaltam a vida nestes momentos.  Poucas coisas deixam as pessoas tão felizes do que o Dolce far niente de aproveitar o lazer. Por isso, as pessoas adoram tanto os feriados.

Mas não foi para falar das múltiplas atividades de lazer de meus amigos que estou escrevendo. O que me inspirou a escrever foi que hoje, pela manhã, por volta de 6h00 fui desempenhar minhas atividades de pai, e buscar minha filha na casa de um colega, onde fizeram uma festa esta noite.

Quem é pai sabe como é, dorme-se pouco e acorda na madrugada para buscá-los. Este final de semana redobrei os cuidados, pois estou impactado com o que aconteceu com um pai que foi buscar a filha em uma festa e teve seu carro atingido por outro motorista, causando a morte prematura de uma adolescente de 15 anos. Pensava o tempo todo nisso, em como sentimos que estamos garantindo a segurança de nossos filhos desempenhando, nós mesmos, a função de levar e buscar nossos filhos nas suas atividades noturnas. É duro saber que esse esforço todo não garante nada, se do outro lado tiver alguém que não está se importando com isso, que conduz seu veículo sem se preocupar com a sua segurança e a de terceiros.

Mas, também não foi por isso que resolvi escrever. O que me motivou, foi o grande número de pessoas que vi nas paradas de ônibus durante o percurso, pessoas que estavam indo ou retornando do trabalho. Pessoas com uniformes de empresas, trabalhadores em geral. Pessoas para quem o feriado não foi de descanso, mas de trabalho. Poucas sorriam, o que contrastava com as imagens de meus amigos que estavam aproveitando o feriado. Imaginava eu o que se passava na cabeça destas pessoas e em quantas delas gostariam de estar aproveitando o feriado à beira de uma praia qualquer.

O mundo do trabalho tem disso, nem sempre o final de semana tem o mesmo significado para todos, para uns é lazer, para outros é trabalho. Pela natureza de minha profissão de fotógrafo, sempre foi rotina trabalhar enquanto os outros curtem, assim como os garçons, os recreacionistas e tantos outros profissionais da área de festas, nossa função era trabalhar para que as pessoas pudessem aproveitar, e o lazer delas é nosso trabalho. Eu sempre trabalhei os sete dias da semana e talvez por isso, dificilmente enfrente horas no trânsito para poder passar uns dias na praia. Com o tempo, mesmo a contragosto, minha família foi se acostumando a isso.

Sempre me incomodaram as pessoas que trabalham e ficam pensando quando é o próximo feriado. No verão é uma loucura, temos no máximo três dias úteis, pois segunda os caras estão detonados do final de semana e produzem pouco, e na sexta-feira só pensam em acabar o expediente para irem para praia, assim terça, quarta e quinta são os melhores dias, os outros uma dureza.

A única coisa que sempre me incomodou, mais do que isso, é que a maioria das pessoas deseja esse descanso apenas para elas e para os seus, para os outros ela quer trabalho. Ela quer ter um restaurante aberto, um ônibus, táxi, avião, funcionando, um supermercado aberto. O mesmo direito a lazer não é concedido aos demais. Quando falamos em fechar o comércio aos domingos, sempre há resistência, pois para muitas pessoas, não há graça nenhuma em “folgar” se não tem ninguém para servi-lo, para lhe atender.

Mas, também o meu objetivo não é fazer uma crítica a esse modo de pensar, e nem aprofundar essa questão, o que demandaria mais argumentos e uma analise mais profunda. O Objetivo real é reconhecer e agradecer as pessoas que trabalham enquanto os outros descansam, que privam-se de estar com suas famílias aos finais de semana e feriados, para manter o roda andando. Pessoas que mesmo em um domingo de final de feriado, as 6h00 da manhã estão a postos para cumprir com o seu dever, exercer seu trabalho, com dignidade. 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O valor venal das pessoas

Hoje é véspera de feriado da Proclamação da República e ontem li o desabafo de uma amiga no Facebook que dizia o seguinte: “Enquanto uns competem carro e beleza, outros se unem em favor da sobrevivência. Será apenas uma realidade cruel? Ou será consequência da própria miséria (ética/moral/intelectual) que o homem se encontra na atualidade? Tá tudo tão errado que não sei nem por onde começar. Chega a doer. Até quando..?

Não sei do que ela falava especificamente, mas estava incomodada com aquilo que ela chamou de miséria (ética/moral/intelectual). Há pouco mais de 2 anos retornei a militar em um partido político, e neste período tenho tentado me adaptar aos “novos tempos” o que, confesso, não tem sido nada fácil, pois os partidos políticos são parte de nossa sociedade e portanto sofrem dos mesmos problemas. Enganam-se aqueles que acham que são coisas separadas.

Quando comecei a fazer política, na década de 80, nossos sonhos políticos eram imensos, pois queríamos mudar o mundo, e nossos objetivos materiais mínimos, tendo um pão e um pouco de água, saíamos daqui e íamos para Brasília protestar. Assim como no comercial do cartão de crédito, algumas coisas não tinham preço (ideais, ética, moral, companheirismo, solidariedade, eram algumas destas coisas que dinheiro nenhum comprava). Infelizmente isso mudou. Hoje tem muita gente trocando moral por Iphone e outros tantos valores importantes por qualquer quinquilharia. Me faz lembrar o período do descobrimento, quando os portugueses levavam nossas riquezas em troca de colares e espelhinhos.

A política está assim, mas, porque a sociedade está assim. As pessoas esqueceram que nosso trabalho pode ter um preço, e cada um estipula o seu. Quanto vale uma hora de teu trabalho? Porém, seus valores, sua integridade, sua honestidade, sua moral, seus ideais e sua alma, não poderiam ser vendidos por preço nenhum, pois, depois que vendê-los, não haverá dinheiro no mundo que lhe proporcione comprá-los de volta.


Sempre falo, sob protesto de alguns amigos, que o Capitalismo é um sistema perverso que corrompe a alma das pessoas, e a cada dia que passa acho essa frase mais verdadeira, bastando apenas analisar fatos cotidianos da vida que vivemos.

Quantas pessoas você conhece que, mesmo ganhando um salário pequeno ou trabalhando naquilo que não gostam, fariam “qualquer coisa” para se manter no emprego?

Quantas pessoas você conhece que fazem um gato na NET para não pagar R$ 100,00 pelo pacote mensal?

Não quero dimensionar o que é certo ou o que é errado, pois isso é relativo ao conjunto de valores pessoais de cada um de nós, mas quero que se perguntem o que realmente tem valor em nossas vidas e qual o valor que damos para estas coisas.
Qual o valor das pessoas?
Qual o valor da vida? Essa é de resposta fácil, todos sempre respondem que a vida não tem preço, porém, nunca se perguntam sobre o valor da vida que se leva. Quanto pagamos em sofrimento, em tristeza, pela vida que levamos?
Quanto pagamos para manter um sistema e um estado de coisas que nos faz infeliz? Quanto vale a nossa felicidade?
Qual o valor que pagaríamos para andar de cabeça erguida, dar bom exemplo aos filhos e ter orgulho do que somos?
Quanto pagaríamos para compreender qual o verdadeiro sentido da felicidade?

Precisamos, de forma individual e coletiva, descobrir o valor das coisas, saber o que é possível ser comprado e aquilo que não tem preço. Enquanto isso não acontecer teremos que fazer a pergunta que minha amiga fez, sem encontrarmos a resposta: Até quando?